Se você olha de fora, parece um sonho: o Brasil é um dos maiores mercados de moda do mundo, estamos no top 4 de produção global de roupas e temos uma diversidade cultural riquíssima.
Mas quando você vive a indústria por dentro, a história muda um pouco.
A gente tem sim um mercado vibrante, mas também muitas barreiras que tornam a vida de quem quer trabalhar com criação mais difícil, vejo que parte do problema está no ritmo acelerado das mudanças:
Novas prioridades de consumo que exigem adaptação constante.
Avanços tecnológicos que mudam a forma como criamos, produzimos e vendemos.
Ciclos de tendência cada vez mais curtos, que pressionam prazos e qualidade.
Dificuldade das instituições em acompanhar esse ritmo e atualizar seus métodos.
Falta de refinamento nos processos, que compromete o resultado final.
Baixa qualidade na pesquisa, que limita a originalidade e a inovação.
Formação pouco prática: muita teoria e pouca vivência real.
A vida real do designer de moda por aqui
O papel do designer de moda é criar pontes entre pesquisa, cultura, tendências e o produto final. No papel, é uma função linda, na prática, é lidar com prazos apertados, falta de recursos para prototipagem, pouco tempo para pesquisa autoral e, muitas vezes, zero espaço para experimentar.
É por isso que muitos acabam migrando para outras áreas, o mercado criativo nem sempre dá espaço para crescer.
Onde os cursos curtos entram nessa história
Uma das formas mais rápidas de mudar esse cenário para você é investir em cursos curtos (short courses).
Eles funcionam como um “acelerador” de habilidades, porque:
Focam em um assunto específico.
Têm aplicação prática imediata.
Geram material que vai direto para o seu portfólio.
Colocam você em contato com profissionais que estão no mercado.
Mas tem um detalhe: nem todo curso curto vale o investimento, já vi muita gente gastar dinheiro (e tempo) em programas rasos, que prometem mas não entregam nada.
Por isso, antes de se inscrever, pergunte:
Esse curso é mão na massa ou só teoria?
O professor atua no mercado e traz exemplos reais?
Vou sair com material aplicável no meu portfólio?
Como não cair em armadilhas
Evite cursos que só repetem fórmulas engessadas. Pesquise sobre o professor, sua experiêcia, veja trabalhos de ex-alunos, pergunte que tipo de material prático você vai produzir.
Curso ruim custa caro e não só no bolso, mas no tempo que você perde.
O que realmente faz um designer ser sênior em uma grande maison
Essa é uma pergunta que sempre me fazem e eu adoro responder porque pouca gente fala sobre isso de forma realista. É algo que aprendi diretamente com profissionais brasileiros muito influentes, com carreiras incríveis lá fora.
Um designer sênior não é só alguém com anos de experiência. É quem consegue traduzir a essência de uma marca em produto.
Isso começa com pesquisa: encontrar referências que não estão no óbvio, interpretar imagens, identificar detalhes que podem virar algo novo.
Depois vem o desenho e não falo só de estética. É representar o caimento, o tipo de costura, o botão, a lapela, o zíper… o croqui tem que ser quase um manual para quem vai produzir a peça.
Tem também a compreensão de modelagem. Você não precisa ser modelista, mas precisa saber indicar ajustes e criar soluções no fitting.
E o ponto-chave: ler o DNA da marca. Saber o que faz a Hermès ser Hermès e usar isso como base para criar algo novo sem perder a assinatura visual. Tudo isso se soma ao conhecimento de tecidos (saber o que um cashmere pesado faz no corpo, como uma sarja se comporta) e à postura profissional, a forma como você apresenta um portfólio, defende uma ideia, se comunica com a equipe.
Chegar lá não acontece da noite para o dia. É treino, prática e atualização constante.
Leia também: minha curadoria de cursos que realmente fazem a diferença
E, em breve, vou publicar também uma curadoria de cursos no Brasil com padrão de ensino internacional, para quem quer se preparar com qualidade sem precisar sair do país. Vou indicar apenas o que, de verdade, considero que pode transformar a forma como você trabalha e se posiciona na moda.
Se você chegou até aqui, obrigada por dedicar seu tempo para essa leitura.
Minha ideia é que cada artigo seja como uma conversa franca, daquelas que a gente teria tomando um café, trocando experiências e atalhos que demoram anos para descobrir sozinha.
A moda pode ser um território difícil de navegar, mas com as escolhas certas e as pessoas certas ao seu lado o caminho fica muito mais claro.
A gente se vê no próximo conteúdo.
beijos.
Noe