Leia esse artigo ouvindo: Édith Piaf - ”La foule” 🎼

Entre as décadas de 1920 e 1940, Paris era o epicentro da alta-costura e também o palco de uma das maiores rivalidades da história da moda.

De um lado, Coco Chanel, poderíamos dizer a mulher que simplificou o luxo.

Do outro, Elsa Schiaparelli, a artista que transformou o ato de vestir em fantasia.

Além de disputa de clientes, elas tinhas visões muito diferentes de mundo.

1. Duas origens, dois universos

As duas nasceram em realidades opostas.

Gabrielle “Coco” Chanel vinha da pobreza e construiu sozinha seu império.

Autodidata, prática e obstinada, acreditava que a moda precisava libertar o corpo eliminar excessos, enfeites e desconfortos.

Ela transformou o guarda-roupa feminino com tecidos simples, cortes funcionais e cores neutras.

Coco

O preto, antes símbolo de luto, virou o emblema da elegância moderna.

Elsa Schiaparelli, italiana e aristocrática, cresceu cercada por arte e cultura.

Quando chegou a Paris, mergulhou de cabeça no movimento surrealista, criando lado a lado com Salvador Dalí, Jean Cocteau e Man Ray.

Suas roupas eram teatrais, conceituais e desafiadoras como o vestido-lagosta, o chapéu em formato de sapato e o icônico “Shocking Pink”, cor que virou sua assinatura.

Chanel era funcionalidade, e Schiaparelli falava de fantasia.Seria tipo: enquanto uma simplificava, a outra sonhava.

2. Minimalismo versus surrealismo

A diferença entre as duas ia além do estilo, era quase filosófica.

Schiaparelli - Chanel

Chanel

Schiaparelli

Minimalista, funcional e prática

Surrealista, simbólica e experimental

Tecidos como jersey e tweed

Bordados, seda, veludo e brilho

Paleta neutra

Rosa choque e cores intensas

Moda como liberdade

Moda como arte e provocação

Chanel desprezava o que chamava de “excentricidades” de Schiaparelli.

Certa vez, disse:

“Ela é uma artista, não uma estilista.”

(tomando isso como crítica, não elogio)

Schiaparelli, por sua vez, ironizava o fato de Chanel ter sido modista antes de ser “visionária” e mantinha distância do universo comercial.

Nos anos 1930, Coco Chanel já era reconhecida como uma das grandes costureiras da Europa. Foi chamada para vestir as atrizes de Hollywood, mas o público americano esperava algo mais glamouroso. Suas roupas eram simples demais para os padrões da época, linhas retas, tecidos confortáveis e uma elegância que nascia do essencial.

E foi exatamente nesse contraste que surgiu Elsa Schiaparelli, a italiana excêntrica que via a moda como espetáculo. Enquanto Chanel falava de liberdade e movimento, Schiaparelli defendia fantasia e teatralidade. Suas criações, feitas em parceria com artistas como Salvador Dalí, eram ousadas, surrealistas e cheias de humor.

As atrizes de Hollywood se apaixonaram por essa estética exagerada: vestidos-escultura, cores vibrantes, bordados impossíveis. Elas queriam ser vistas, admiradas, lembradas e Schiaparelli lhes deu isso.

O sucesso foi tanto que Elsa Schiaparelli se tornou a primeira mulher a estampar a capa da revista TIME, em 1934. E esse reconhecimento só incendiou ainda mais a rivalidade com Chanel, que desprezava o que considerava “moda de fantasia”.

3. Rivalidade literal: o episódio da festa

O episódio mais famoso da rivalidade aconteceu nos anos 1930.

Em uma festa de fantasia, Chanel, vestida de pastora, empurrou discretamente Schiaparelli para dentro de uma vela acesa, incendiando o tule do vestido surrealista da rival.

Schiaparelli saiu ilesa, mas o incidente marcou para sempre o imaginário da moda.

Foi o retrato simbólico de duas forças que não conseguiam coexistir no mesmo espaço.

4. O destino de cada uma

A história, porém, foi mais generosa com Chanel.

Durante a Segunda Guerra, enquanto Schiaparelli fechava sua maison, Chanel soube reconstruir seu império.

Em 1954, ano em que Schiaparelli encerrou suas atividades, Chanel reabriu sua casa e consolidou sua estética atemporal.

Mas o tempo fez justiça.

Hoje, sob a direção de Daniel Roseberry, a Maison Schiaparelli voltou ao topo da alta-costura parisiense, com desfiles que unem surrealismo, drama e escultura.

Sua visão voltou a ser admirada por uma nova geração que entende a moda também como arte.

A Chanel acaba de iniciar uma nova etapa ao lado de Matheiu Blazy, prometendo ser histórica.

É impossível não lembrar de Coco Chanel nesse momento, a mulher que revolucionou a moda ao defender a simplicidade, a liberdade e a funcionalidade das roupas.

Chanel criticava tudo o que limitava o movimento do corpo feminino.

E, sinceramente, suas palavras continuam válidas até hoje. Basta lembrar dos vestidos escultóricos e quase impraticáveis da Schiaparelli no Met Gala:

  • Kim Kardashian, praticamente impossibilitada de subir as escadas do evento,

  • Dua Lipa em um fabuloso vestido preto com volume na saia e detalhes dourados, mal conseguindo se mover.

Chanel acreditava que a verdadeira elegância nasce da liberdade de quem veste. E talvez seja por isso que, mesmo 100 anos depois, sua visão ainda seja o ponto de partida para cada nova revolução na moda.

5. O que essa rivalidade representa

No fim, Chanel e Schiaparelli nunca disputaram apenas o mercado, disputaram o significado da moda.

Chanel acreditava que a elegância estava no controle: menos volume, menos ornamento, mais liberdade, por isso eu me identifico muito com Chanel.

Já Schiaparelli acreditava que a beleza estava no sonho: mais humor, mais conceito, mais expressão, lindo de ver mas não de usar.

E talvez por isso, juntas, elas representem os dois polos que ainda movem a moda até hoje, eu definiria assim:

  1. a função e a fantasia.

  2. o corpo e a mente.

Concordam??

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