Todas minhas manhãs assim que abro o computador, começo a me atualizar, o que aconteceu de novo na indústria da moda e em outras áreas relacionadas, descobrir novos nomes, gosto de investigar várias plataformas, portais, acompanhar novidades.

E algo que vem me chamando muito a atenção, e não é de hoje, é um crescimento constante e uma mudança estética muito interessante na forma como as marcas estão trazendo técnicas artesanais como destaque, principalmente o crochê.

Sinto que agora os trabalhos manuais estão mais complexos, com detalhes delicados, como se fosse uma rebelião contra o barulho da vida moderna. Pessoalmente, sempre relacionei o crochê com o verão, até porque minhas peças da adolescência se resumiam a biquínis e vestidos... mas o que está acontecendo agora é diferente. Aquela técnica esquecida, "coisa de vó", subvalorizada, está tomando uma força e um visual incrível ao longo dos anos. Nada novo, mas em 2025 ele será muito sofisticado, e isso me fascina!

Por que o crochê cresceu tanto em 2025?

Quando estudo uma tendência, sempre gosto de mergulhar nas origens, navego pelas plataformas, acompanho os trendsetters, analiso notícias e relaciono com fatores culturais, políticos e sociais por trás de cada movimento. Com o crochê, esse processo revelou uma confluência perfeita de elementos que explica seu interesse meteórico.

Os dados confirmam essa ascensão. O Pinterest registrou crescimento de 72% nas buscas por "ideias de detox digital" e 273% em "vision boards de desconexão digital", indicando uma busca coletiva por escapismo e reconexão com o manual.

Na BoF, o artigo "Why Lace and Crochet Are Everywhere Right Now" relata que: As buscas por "Crochet" na plataforma de revenda Depop aumentaram 95% este ano, no Google alcançou o maior nível de popularidade em cinco anos em janeiro 2025.

O relatório WGSN Future Consumer 2026 identificou um perfil chamado "The Gleamers" consumidores que estão redefinindo felicidade através de pequenas conquistas e celebração do artesanal que representa 42% dos trabalhadores em países desenvolvidos que relatam burnout, e 49% das pessoas que comprariam mais de marcas que trazem alegria com DNA artesanal.

A história do crochê

Origens e século XIX: O crochê surgiu no século XIX como uma técnica acessível que imitava rendas caras, rapidamente se tornou popular entre mulheres de todas as classes sociais, especialmente durante a Era Vitoriana, quando o trabalho manual feminino era valorizado como virtude doméstica.

Décadas de 1960-70: A primeira revolução, durante o movimento hippie, o crochê ganhou contornos de rebeldia e expressão pessoal, marcas como Missoni começaram a incorporar tricô e crochê em suas coleções, elevando a técnica artesanal ao status de alta costura, Jane Birkin como referência da época!

Jane Birkin usando um vestido de crochê para Cannes 1969

Anos 1980-90: As décadas seguintes viram o crochê ser associado ao "brega" e ao antiquado. O fast fashion em ascensão priorizava a produção em massa, relegando técnicas artesanais ao esquecimento.

Década de 2000: O retorno tímido, com o boho chic popularizado por celebridades como Sienna Miller e Kate Moss, o crochê voltou timidamente, mas restrito a peças de praia e festival.

2010-2020: Movimentos como slow fashion e valorização do handmade prepararam o terreno. Marcas como Gabriela Hearst e Rosie Assoulin começaram a experimentar com crochê luxury.

2025: A revolução completa, hoje, o crochê transcendeu estações e ocasiões. Não é mais apenas verão ou boho, ele já não é mais sazonal.

Separei minhas 4 teorias sobre o ressurgimento

Teoria 1:

Observo uma conexão direta com outras áreas: decoração rústica, arquitetura biofílica, e principalmente o "cottagecore" que dominou as redes sociais. A "estética Martha Stewart" está em ascensão, com pessoas abraçando cozinha garden-to-table, jardins floridos e receitas de verão frescas.

A Geração Z está buscando autenticidade e conexão com o natural, o interesse pelo rural e rústico representa uma saturação digital pessoas querendo se desconectar, fugir ao campo e se reconectar com o feito à mão, o artesanato dá valor ao manual e menos à tecnologia, oferecendo uma pausa necessária da hiperconexão.

Teoria 2:

Vivemos uma crise de sustentabilidade fashion, o crochê surge como antítese perfeita: cada peça é única, durável, reparável. Representa investimento em tempo e qualidade, valores que os consumidores priorizam ao celebrar pequenas conquistas e rejeitar a cultura do descarte.

Teoria 3:

Passarelas e trendsetters: crochê na indústria do luxo, nas passarelas SS/25, marcas como Khaite, Chloé, Chanel, Elie Saab e Carolina Herrera trouxeram suas interpretações sofisticadas da técnica.

Trendsetters como Gracie Abrams, Sabrina Carpenter, Bella Hadid e Sofia Richie adotaram o crochê como uniforme de elegância descomplicada, cada aparição pública com peças em crochê gera milhões de engajamento e buscas por "get the look".

Elie Saab - Spring-Summer 2025

Teoria 4:

Globalização e difusão cultural. O mais interessante é ver o crochê transcender climas e estações, o estilo boho-chic está de volta com vestidos longos em tecidos leves, detalhes em crochê e acessórios vintage. Marcas como Isabel Marant, Khaite e Jil Sander incluíram crochê em suas coleções FW 24/25, provando que a técnica está deixando de ser sazonal para se tornar permanente.

As redes sociais democratizaram o acesso a tutoriais e padrões, permitindo que a técnica se espalhasse globalmente. O crochê agora fala todas as línguas e se adapta a todos os climas.

Como o crochê se manifesta em 2025

Em 2025, o crochê é delicado, nostálgico e romântico, e o interessante é que o resultado são peças que funcionam tanto para reuniões de trabalho quanto para jantares mais formais.

A paleta de cores evoluiu: off-whites cremosos, pretos profundos e cores terrosas, que dialogam com a estética natural. Os pontos também se sofisticaram, com designers criando texturas inéditas que brincam com luz e sombra.

Separei aqui como algumas marcas internacionais interessantes estão aplicando a tendência crochê em peças, acessórios e criando uma linguagem completamente criativa para a técnica:

  • Lenços de cabeça: A marca letã Skarule, de Sabine Skarule, foi uma das pioneiras a popularizar lenços de cabeça de crochê.

Bustier estruturado da Magda Butrym: Esta peça em creme redefine o conceito de lingerie como outerwear. O crochê aqui ganha estrutura arquitetural, com pontos que criam bojo natural e sustentação.

Charms em crochê da Magda Butrym: Os acessórios em crochê representam uma inovação conceitual. O crochê aqui funciona como escultura tridimensional, criando volume e textura únicos.

  • Camiseta com sutiã de crochê na cor branca, vejam que interessante como os detalhes em crochê também de manifestam de forma delicada nessa t-shrirt elevando a peça clássica.

Vestido coluna da St. Agni: O "Doily Column Dress" é moderno e atemporal. O branco puro amplifica a sofisticação da técnica.

Blusa em crochê rendado com gola alta, cor bordô, da Magda Butrym: amei essa blusa traduz perfeitamente a a estética do crochê em 2025.

O futuro da tendência & conclusão

Observando o panorama global, o crochê consolidou-se como uma tendência estrutural, não apenas sazonal. Sua capacidade de adaptação a diferentes contextos culturais e climáticos garante longevidade. A técnica representa e acompanha valores fundamentais do consumidor contemporâneo: autenticidade, sustentabilidade, individualidade e conexão humana.

All That Remains, Alaïa, Toteme

No mercado brasileiro, vejo um potencial gigantesco. Nossa tradição artesanal, combinada com a criatividade nacional, pode posicionar o Brasil como referência global em crochê de luxo ainda mais. Marcas nacionais que investirem na técnica agora estarão na vanguarda de uma revolução que apenas começou.

éliou

Sintetizando os dados e teorias que trouxe aqui, projeto um futuro onde o artesanal e o luxo se encontram definitivamente, o crochê não é mais alternativa, é mainstream sofisticado.

Para marcas e consumidores, representa oportunidade de expressar valores através do guarda-roupa.

Se você chegou até aqui, provavelmente compartilha da minha paixão por entender as forças que movem a moda e convido você a se inscrever na minha newsletter para continuar explorando essas tendências juntos.

Agora me conte se você trabalha com crochê e se estão gostando da evolução do dele em 2025, quero muito saber!!!!

Até a próxima análise!

Um beijo,

Noe

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